MGM 100 ANOS | NINOTCHAKA / MEIAS DE SEDA

Por Adilson Carvalho

Imaginem que a antiga União Soviética enviasse uma funcionária a França em uma missão de negócios oficial. Lá, ela se apaixona pelo guardião das joias de uma grã-duquesa, um homem que representa tudo que ela deveria odiar. Desse confronto ideológico, surge uma inusitada história de amor, vivida por Greta Garbo (1905/1990), escrita por Billy Wilder, Charles Brackett e Walter Reisch, baseado em uma história de Melchior Lengyel. Na época, a MGM comercializou Ninotchaka (1939) com o bordão “Garbo Laughs!” (Garbo ri!) por ser a primeira comédia estrelada por Garbo. A campanha publicitária foi uma brincadeira com a frase “Garbo Talks!” (“Garbo fala!”) usada para a estreia de Garbo em seu primeiro filme falado, Anna Christie (1930). a atriz tinha muitas dúvidas quanto à sua participação numa comédia e estava particularmente nervosa com a cena da bebedeira, que considerava muito vulgar. A cena acabou se tornando memorável e prova da versatilidade da atriz sueca, que veio a ganhar sua quarta indicação ao Oscar. Na história, Ninotchaka (Garbo) é incumbida de levar de volta à Russia os emissários Buljanoff (Felix Bressart), Iranoff (Sig Ruman) e Kopalskki (Alexander Granach) encarregados de vender as jóias e levar o dinheiro de volta. Os três se instalam em luxuosa, e com a chegada de Ninotchka, atraem a atenção do conde Leon (Melvyn Douglas), o fiel banqueiro da grã-duquesa Swana (Ina Claire). A mensagem era evidente, o ocidente capitalista seduz a frieza russa. Bela Lugosi, o intérprete de Drácula (1930) faz uma participação no final, embora seu nome seja um dos primeiros creditados na tela abaixo de Garbo e Douglas. Curiosamente, Ninotchka foi o filme que Arnold Schwarzenegger estudou quando estava a criando o seu personagem em Inferno Vermelho (1988). O exercício de imitar Greta Garbo foi recomendado pelo diretor Walter Hill. Apesar do sucesso, o filme veio a ser o penúltimo filme da estrela sueca, que abandonou sua carreira aos 38 anos e passou a viver reclusa até o fim de sua vida.

Em 1955, Ninotchaka foi adaptado para o teatro com canções escritas por Cole Porter, fazendo muito sucesso na Broadway, estrelada por Hildegard Neff e Don Ameche. A MGM produziu então uma versão cinematográfica do musical em 1957 entitulada Meias de Seda (Silk Stockings) , dirigida por Rouben Mamoulian e estrelada por Fred Astaire e Cyd Charisse. Na refilmagem, o produtor cinematográfico Steve Canfield (Astaire) quer que o compositor e pianista russo Peter Illyich Boroff (Wim Sonneveld) escreva canções para o seu próximo filme, uma versão de Guerra e Paz, a ser filmado em Paris. Boroff resiste pois acaba de saber que chegarão três comissários soviéticos com a missão de levá-lo de volta a Moscou. Canfield então passa a corromper o recém-chegado trio de comissários, Brankov (Peter Lorre), Bibinski (Jules Munshin) e Ivanov (Joseph Buloff), oferecendo-lhes toda sorte de luxo e divertimentos da vida parisiense. Os três adiam a volta de Boroff, o que desagrada seu superior, que então resolve enviar a fervorosa comunista Ninotchka Yoschenko (Charisse) outro comissário para saber o que está acontecendo. Quando Ninotchka chega à capital francesa, Canfield logo tenta iniciar um romance com ela. Enquanto isso, a atriz principal do seu filme, Peggy Dayton (Janis Page) , uma paródia de Esther Williams, convence Boroff a colaborar com o filme. A voz de Cyd Charisse foi dublada por Carol Richards, que também cantou para ela em A Lenda dos Beijos Perdidos (1954) e Dançando nas Nuvens (1955). O striptease de Cyd Charisse para o número que dá título ao filme foi recebido com desconfiança pelos censores cinematográficos do Código Hays. Durante um instante de dois segundos, Cyd Charisse é vista de corpo inteiro numa camisola de seda, expondo as suas lendárias pernas. A censura da Hays considerou esta cena demasiado picante e integrou na dança uma cadeira de espaldar alto para ela correr atrás dela. Depois de emergir de trás da cadeira, ela veste um saiote rodopiante, mas este é transparente e permite vislumbrar rapidamente as suas pernas, que eram o que a maioria dos espectadores queria de fato ver. Apesar disso o filme foi um fracasso na bilheteria, mas um dos musicais mais memoráveis do cinema, o último da fase clássica de Fred Astaire, e um dos últimos da fase de ouro do estúdio.

Esteja conosco em uma visita à África com o rei das selvas no próximo artigo dos 100 anos da MGM.

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