ISTO É FATO…NÃO FITA! | LANCASTER & DOUGLAS: AMIGOS DO PEITO, NUNCA!

Por Paulo Telles

Hoje, sabe-se que a relação entre estes dois titãs da cinematografia mundial, Burt Lancaster (1913-1994) e Kirk Douglas (1916-2020) fora das telas não era das melhores. Embora tivessem atuado juntos em sete filmes (Estranha Fascinação,1948; Sem Lei e Sem Alma, 1956; O Discípulo do Diabo, 1959; A Lista de Adrian Messenger,1963; Sete Dias de Maio, 1964; Vitória em Entebbe, 1976, para TV; e Os Últimos Durões, 1986), os dois astros pareciam grandes amigos para as plateias, principalmente em condições onde os dois concedessem entrevistas perante o público. Entretanto, o elo entre os dois não passava apenas de uma grande fachada de publicidade promovida pelo agente de Kirk Douglas, pois Lancaster tinha na realidade uma personalidade arrogante. Muitas vezes, Burt tratava Kirk com ironia, crueldade e indiferença.

Lancaster e Douglas em coletiva para imprensa em 1981

Sobre as filmagens de Sem Lei e Sem Alma (Gunfight Ok Corral), super western dirigido por John Sturges (1910-1992) em 1956, Kirk Douglas sempre contou que ele e Lancaster brigavam feito cão e gato: “ Burt sempre queria me ensinar como interpretar Doc Holliday e eu criticava a maneira como ele interpretava Wyat Earp. Tivermos muitas brigas, mas o mais curioso é que, quando as filmagens terminaram, nasceu entre nós uma grande amizade e um respeito mútuo”. Bom, isto pode até ser verdade por parte do bondoso e humano Kirk, mas tratando-se de Burt, o sentimento era recíproco? Amigos pessoais de Burt declaravam que ele jamais tolerou Kirk, e muito embora ambos tivessem posições políticas semelhantes (ambos democratas!), a rivalidade entre os dois artistas era acirrada no terreno das interpretações, e não foram poucas as farpas trocadas um pelo outro, sendo a última presenciada pela equipe do último filme em que atuaram juntos, Os Últimos Durões (The Tough Guys), em 1986. No entanto, muito embora os dois atores estivessem bem distantes de serem amigos, um reconhecia no outro seu valor no campo da Sétima Arte. Realmente, houve poucos momentos que os dois puderam se entender. Mas amigos do peito…nunca!

Em 2016, quando Douglas completou seu 100º aniversário, ele declarou aos jornalistas:

Em Sem Lei e Sem Alma, o nome do Burt Lancaster era o primeiro, mas ganhei o dobro do salário dele, porque Burt tinha contrato com o estúdio, e eu não. Interessante que fiz sete filmes com ele, e as pessoas acham que éramos superamigos. Não tínhamos uma relação de amizade fora do ciclo de trabalho. Nos respeitávamos, mas nunca fomos grandes amigos. E a gente até competia bastante”.

Um caso para nossos registros, afinal, ISTO É FATO…NÃO FITA!!!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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