MGM 100 ANOS | E O VENTO LEVOU

Por Paulo Telles

O Filme mais famoso e mais visto na História do cinema”.  Foi assim que a Rede Globo divulgou em 1983 a estreia pela TV brasileira de E O VENTO LEVOU (Gone With The Wind, 1939).  Na telinha era um evento inédito (a emissora apresentou o filme em duas partes), mas nos cinemas pelo Brasil este alicerce da quintessência cinematográfica já vinha saindo de uma reprise após outra, atravessando ao longo de quatro décadas nossas salas de exibição. A turbulenta história de amor entre Scarlett O’ Hara, uma sulista de temperamento indomável e rebelde, e o cínico aventureiro Rhett Butler, tendo como cenário a Guerra Civil Americana (1861-1865).  

David O’ Selznick (de óculos), ao lado de Vivien Leigh (atrás, de perfil, o marido Laurence Olivier), e Olivia de Havilland na estreia de E O VENTO LEVOU, em Atlanta

Esta superprodução de David O’ Selznick (1902-1965), continua sendo até hoje um dos maiores campeões de bilheteria da Sétima Arte. Desde 1939, o ano de seu lançamento, segundo o cálculo à base do chamado Dólar Constante (que é corrigido monetariamente), a película já arrecadou o equivalente a 321 milhões de dólares, superando até mesmo Star Wars (1977). Ao ser transmitido pela primeira vez na TV americana, pela cadeia NBC, tornou-se também o filme de maior audiência já registrada: 47.7 pontos de rating, o ibope americano.

Vivien Leigh e Clark Gable em E O VENTO LEVOU (1939), superprodução histórica da MGM, considerado o maior filme de todos os tempos!

Ao ser lançado há mais de 80 anos, era a produção mais cara de sua época (4 milhões e 250 mil dólares) e também o filme mais longo do cinema até aquele momento, com suas 3 horas e 43 minutos de projeção. Arquitetado a partir do estrondoso best seller de Margaret Mitchell (1900-1949), publicado a 30 de junho de 1936, o livro vendeu até hoje mais de 70 mil exemplares, sendo traduzido para 28 línguas, E O VENTO LEVOU bateu ainda o recorde de oito Oscars, entre os quais: Melhor Filme, Melhor Atriz (Vivien Leigh, 1913-1967), Melhor Diretor (Victor Fleming, 1889-1949) e Melhor Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel, 1895-1952). McDaniel entrou para a História como a primeira artista afrodescendente a receber um Oscar, graças a sua bem-humorada atuação como Mammy, a empregada dos O’ Hara. Ameaçada de morte pela Ku Klux Klan, a atriz foi impedida de comparecer ao lançamento oficial do filme em Atlanta.

Hattie McDaniel, Olivia de Haviiland e Vivien Leigh

David O’ Selznick contratou o consagrado escritor Sidney Howard (1891-1939) para condensar as 1.037 páginas do volumoso romance (precisando da colaboração de outros onze roteiristas), já que o livro é detentor do Prêmio Pulitzer de 1937. Howard, que faleceu quatro meses antes da estreia, acabaria por ganhar um Oscar póstumo por seu roteiro adaptado em 1940.  Selznick martelava ideias para saber quem poderia interpretar os papéis centrais. Para Rhett Butler, o personagem viril que arrebatava os corações femininos das moças do Sul, o produtor pensou inicialmente em Gary Cooper, que não pegou o papel por acreditar que o filme pudesse ser um fracasso. Ronald Colman e Errol Flynn também eram cogitados, enquanto Basil Rathbone era o preferido de Margaret Mitchell. Contudo, o escolhido foi Clark Gable (1901-1960). De fato, nenhum outro ator de sua época se encaixaria melhor do que ele como Rhett Butler, um tipo amoral e sedutor, mas ao mesmo tempo capaz de demonstrar seu lado humanitário.

E O VENTO LEVOU (1939) – Um filme da “Marca do Leão”

A fim de conseguir Gable, Selznick teve de entrar em acordo como o seu sogro, Louis B. Mayer (1884-1957), o lendário chefão da Metro Goldwyn Mayer (MGM). Mayer cederia seu astro, entraria com uma participação no valor da metade dos dois milhões e 250 mil dólares e, em troca, seria responsável pela distribuição e receberia 50% dos lucros. Em 1944, a MGM adquiriu os direitos totais sobre o filme.

O diretor Victor Fleming com uma edição do romance de Margareth Mitchell, sob os olhares de Leslie Howard e Vivien Leigh

Para o papel de Ashley Wilkes, Selznick tinha apenas um ator em mente, o inglês Leslie Howard (1893-1943). A contratação de uma atriz para viver Melanie Hamilton não tardou, e a escolhida foi Olívia de Havilland (1916-2020). Faltava apenas escolher a intérprete de Scarlett O’ Hara. A primeira cogitada, Norma Shearer, recusou o convite. A seguir, umas constelações de estrelas compareceram para os devidos testes, como Bette Davis, Miriam Hopkins, Joan Crawford, Claudette Colbert, Susan Hayward, Carole Lombard, Jean Arthur, Katharine Hepburn, e Paulette Goddard, esta quase escolhida. Quando Myron Selznick, agente de talentos e irmão de David resolveu visita-lo em seus estúdios, levou o ator Laurence Olivier então acompanhado pela namorada, uma jovem e promissora atriz inglesa chamada Vivien Leigh. A apresentação de Vivien por Myron tornou-se célebre: “Quero que conheça Scarlett O’Hara”. A busca por Scarlett chegara ao fim.

Rhett e Scarlett tentando escapar do incêndio de Atlanta

As filmagens começaram bastante tumultuadas a 10 de dezembro de 1938, nos velhos estúdios da RKO-Pathé, em Culver City, Califórnia. Sob a direção de William Cameron Menzies (1896-1957), encenou-se diante das câmeras Technicolor a sequência do incêndio de Atlanta. Sete câmeras Technicolor fotografaram os dublês dos personagens de Rhett e Scarlett em plano médio e geral com o fogo ao fundo. Foi necessário filmar esta cena antes do verdadeiro início da produção, a fim de limpar a área para a construção do cenário de Tara, partes de Atlanta, e vários outros exteriores. O compositor vienense Max Steiner (1888-1971) assinou o famoso comentário musical que se tornou antológico no mundo das trilhas sonoras.

De Havilland, Ward Bond, Gable e Leslie Howard.

A première teve lugar em Atlanta na noite de 15 de dezembro de 1939, com a frente do cinema Lowe’s Grand decorada como a mansão de Twelve Oaks, lar de Ashley Wilkes. O Governador da Geórgia decretou feriado estadual em virtude do lançamento da produção. Para não ficar atrás, o Prefeito de Atlanta programou três dias de festividades, substancialmente patrocinadas pela MGM. A imprensa estimou em um milhão o número de pessoas aglomeradas na cidade – então habitada por 500 mil cidadãos – no dia da estreia de E O Vento Levou.

Divulgação de um jornal durante o lançamento no Brasil, por volta de 1940, no cine Metro do Rio de Janeiro

Victor Fleming dirigiu apenas 45% das cenas. Os demais cineastas que dirigiram e não receberam créditos pela produção foram Sam Wood, George Cukor, e William Cameron Menzies.

Esteja de volta ao CinemaComPoesia e vamos no próximo artigo da MGM 100 anos revisitar a Judéia de 2000 anos e a saga de um príncipe semita em luta contra o Império Romano.

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