AS MELHORES HISTORIAS DO FANTASMA

Por Adilson Carvalho

Imaginado pela mente criativa de Lee Falk, o Fantasma (The Phantom) foi publicado pela primeira vez há exatos 88 anos. Embora ja tenha sido um dos heróis dos quadrinhos mais populares do Brasil, o Fantasma é praticamente desconhecido da geração mais jovem, mal aproveitado até mesmo em seu país de origem, que o deixa restrito apenas aos colecionadores e leitores mais antigos. Existe toda uma mitologia em torno do herói, que foi o primeiro combatente do crime mascarado, criado muito antes de super heróis como Superman, Batman ou Capitão América. Defensor da fictícia selva do golfo de Bengala, uma região da Índia, então sob domínio britânico, o herói passou a partir de sua segunda aventura a habitar a “costa de Bengala” (Bengal no original em inglês), na Birmânia, então uma possessão britânica no sudeste asiático. Lee Falk teve ao seu lado a arte de Ray Moore (1905 – 1984), mas foi Sy Barry (hoje com 95 anos) quem atravessou décadas desenhando o herói.

Não demorou muito para que o Fantasma se destacasse de Tarzan e Jim das Selvas, outros heróis retratados na mesma ambientação. A tira diária do Fantasma estreou nos jornais norte-americanos em 17 de fevereiro de 1936, inicialmente escrito e desenhado pelo próprio Falk. Em sua história de origem, somos apresentados a Christopher Walker, nobre inglês único sobrevivente de um ataque pirata. Naufragando na costa do fictício Bengala, ele faz o juramento solene de acabar com a pirataria, a crueldade e a injustiça, passando seu manto de uma geração para outra, criando assim a lenda de que o herói era imortal. De seu trono na Caverna da Caveira, o herói de rosto desconhecido espalha sua proteção para além da selva, muitas vezes visitando o mundo exterior sendo vestido com sobretudo, chapéu e óculos escuros. No Brasil as tiras do Fantasma estrearam em A Gazeta em 2 de Dezembro de 1936, na edição # 169 com a história A Irmandade Singh, se estendendo até a edição # 242. A primeira revista a publicar o personagem foi L’Uomo Mascherato, publicada em 1937 pela editora “Editrice G. Nerbine da Itália. Em junho do mesmo ano, o Fantasma se juntou ao Príncipe Valente, Robin Wood, Flash Gordon, Mandrake em O Globo Juvenil. Em 12 de Abril de 1939, a Editora Rio Gráfica lançou um suplemento em quadrinhos chamado Gibi que publicaria as tiras originalmente publicadas nas edições de domingo. Foi nesta editora, de propriedade da família de Roberto Marinho, que o herói mascarado ganhou sua primeira revista regular a partir de março de 1953, a princípio com periodicidade bimestral e mensal a partir da edição #47 (novembro de 1960).

Na RGE foram 33 anos de publicação ininterrupta com revista mensal, almanaques e várias edições especiais. Para suprir a demanda de novas histórias, foram publicados material do Fantasma originalmente publicados na Suécia e Austrália, onde o herói continua muito popular até hoje. Muitos artistas contribuíram para a revista ao longo dos anos, como Luiz Fernando Guimarães (lutz), Juarez P. Getulio Delphin, Ares, Domingos Cevera, Gutemberg Monteiro, Walmir Amaral de Oliveira, Baptista, Miguel Piedra, Sérgio, Adir Teixeira, Milton Sardella, Evaldo de Oliveira, Joaquim de Oliveira Monte Novo, Marcio, Juarez Odilon, Primaggio Mantovi, Norival, José Menezes e Carlos. De 1955 a 1979 circulou o Almanaque do Fantasma com periodicidade anual, passando a trimestral a partir de fevereiro de 1979 e bimestral a partir de abril de 1984. Já o Super Almanaque do Fantasma começou em 1980 com duas edições por ano, depois ficou bimestral em 1982 e no ano seguinte trimestral. Os leitores ainda foram presenteados com o Hiper Almanaque do Fantasma entre 1981 e 1982 e Arquivos Secretos do Fantasma, também entre 1981 e 1982, que intercalava uma história com matérias de pesquisa e curiosidades. O personagem foi também publicado por décadas no Globinho, suplemento dominical de hqs do jornal O Globo. Uma das histórias mais marcantes do herói foi o Casamento e Lua de Mel do Fantasma, com Diana sua namorada de longa data, publicado em 1978, e no ano seguinte republicado em uma edição de luxo.

O Fantasma já tinha adotado o menino Rex King, que posteriormente foi descoberto ser o príncipe de um local chamado Baronkhan (Fantasma #328 / Março de 1983). Algum tempo depois, com o casamento com Diana, veio o nascimento dos gêmeos Kit e Heloíse em Os Bebês do Fantasma. Também muito bem lembrada é a edição #10 do Almanaque do Fantasma que publicou a história O Fantasma no Brasil, onde o herói persegue matadores de animais até o nosso país, passando pelo Rio de Janeiro. Como o legado do Fantasma atravessa séculos, em várias histórias Kit Walker (o 21º herdeiro do herói original) lê as Crônicas do Fantasma, devidamente documentadas na Caverna da Caveira. Em Fantasma # 348 (novembro de 1984), o herói descobre como um de seus antepassados empunhou a mítica espada Excalibur, pertencente ao lendário Rei Arthur. Em Janeiro de 1989, a RGE havia sido rebatizada de Editora Globo e publicou a mini-série O Fantasma originalmente publicada pela DC Comics com roteiro de Peter David e desenhos de Joe Orlando, promovendo um reboot do personagem, restaurando em nosso país a cor original de seu uniforme, roxa em vez do vermelho e levando a uma nova revista mensal que durou dois anos. O novo destaque do herói veio principalmente com o desenho de TV Os Defensores das Terra, que teve roteiro de Stan Lee, reunindo o Fantasma, Flash Gordon e Mandrake. Na década de 90, um live action e a animação curta Fantasma 2040 reviveram o personagem mas por pouco tempo. Ainda assim, a Opera Graphica e a Mythos voltaram ocasionalmente a publicar encadernações de suas aventuras. O público leitor precisa redescobrir o encanto do Espírito-que-anda, pois uma hora a justiça se fará de novo, velho ditado da selva.

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