ISTO É FATO… NÃO FITA! “OS FILMES FALADOS NUNCA FARÃO PERIGAR O DRAMA SILENCIOSO”. PALAVRAS DE FRED NIBLO.

Por Paulo Telles

E vamos para mais um fato nos registros da Velha Hollywood!

Somente quem entende de cinema, estuda cinema e aprecia a fase silenciosa da Sétima Arte saberá da importância de Fred Niblo (1874-1948) para o mundo cinematográfico. Ele foi ator popular de vaudevilles e de teatro em pleno início do século XX antes mesmo que Hollywood iniciasse suas raízes como meca do cinema. Por lá, Niblo atuou como ator em curtas. Bom que se saiba que estamos falando dos primórdios do cinema, seja como arte, seja como diversão. Portanto, é a fase dos silents, ou como chamamos vulgarmente, cinema mudo, onde os filmes não tinham diálogos falados. Tudo era através das cenas, dos gestos, olhares e das expressões faciais dos atores. Não demorou muito, Niblo descobriu a arte da direção, e empenhou em tornar-se um dos mais importantes cineastas da história da Sétima Arte. E este feito ele conseguiu com todos os louvores.

Fred Niblo, de gravata borboleta e mão na cintura, no meio do cast de BEN-HUR, versão de 1925 que ele dirigiu, entre os astros principais, Francis X. Bushman e Ramon Novarro.

Iniciando-se como cineasta em 1916, Niblo alavancou sucessos de crítica e bilheteria, e é dele a autoria de A Marca do Zorro (The Mark of Zorro, 1920) com Douglas Fairbanks; Sangue e Areia (Blood and Sand, 1922) com Rodolfo Valentino; Ben-Hur (Ben-Hur, 1925) com Ramon Novarro; e A Dama das Camélias (Camille, 1926) com Norma Talmadge e Gilbert Rolland.

Rodolfo Valentino e Fred Niblo durante as filmagens de SANGUE E AREIA de 1922

Entretanto, no fim da década de 1920, boatos sobre a chegada do som nos filmes vinham se espalhando. Muitos testes realizados pelos técnicos vinham confirmando esta tendência, e antes mesmo que pudessem lançar O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927) de Alan Crosland, com Al Johson (1886-1950) –  considerado o primeiro filme falado do cinema – diversos cineastas, produtores e atores estavam preocupados com os rumos das possíveis mudanças. Uns viam com bons olhos, mas em contrapartida, outros não viam com entusiasmo a chegada do cinema falado. E entre os profissionais do cinema norte-americano que não aprovavam este rumo de mudanças estava Fred Niblo, que em 1928, fez questão de divulgar aos jornalistas para que estes pudessem publicar em seus tabloides:

– Os filmes silenciosos nunca farão perigar o drama silencioso. São apenas uma novidade que vai desaparecer em pouco tempo. Tive a ocasião de assistir vários filmes falados, e estou firmemente convencido de que eles nunca chegarão a perfeição de suplantar o filme silencioso. É, impossível, antes de tudo, dar a voz reproduzida aquele tom doce e humano que é necessário e indispensável para o drama falado. E depois, se as estrelas de hoje passassem a falar na tela, as plateias seriam desiludidas, por força da má reprodução de suas vozes. Deixemos o cinema como está!

Como sabemos, o cinema falado veio para ficar… e para sempre! E Niblo errou em sua previsão.

Fred Niblo, o mais alto, com Marcus Loew e Louis B. Mayer, os fundadores da Metro Goldwyn Mayer, em 1924.

Niblo não se adaptou as mudanças, muito mais pela forma errônea de tratar o assunto do que propriamente pela competência artística e profissional, pois apesar desta nota triste, Niblo era competente em sua arte e no exercício de sua função como um grande diretor. O que faltou a ele foi ver o horizonte, o norte, e onde a inovação do cinema falado viria chegar. Ele dirigiu até 1932, e depois aposentou-se, chegando a participar como ator em pontas em alguns filmes dos anos de 1940. Fred Niblo morreu em 1948.

Um caso nos nossos registros, afinal, Isto é Fato…Não Fita!!!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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