GALERIA DE ESTRELAS | ELEANOR PARKER

Por Paulo Telles

No dia 9 de dezembro de 2013, as manchetes pelos jornais e a internet divulgou o falecimento da atriz Eleanor Parker (1922-2013), que se notabilizou pela beleza e talento e fez muito sucesso nos anos de 1940 e 50. Eleanor Jean Parker nasceu a 26 de junho de 1922, em Cedarville, Ohio, EUA, caçula de três filhos de um professor de matemática e sua esposa. Ela começou a atuar cedo em peças da escola, o que despertou o interesse dela tão tenro em se tornar atriz. Aos 15 anos de idade, participou do Teatro de Verão no vinhedo de Martha, em Massachusetts. A ela foi oferecida seu primeiro teste de cinema por um caçador de talentos da 20th Century-Fox, enquanto a jovem participava de uma de suas incursões teatrais, mas declinou do convite porque ela tinha mais interesse em adquirir experiência profissional no palco de Cleveland depois de se formar no ensino médio. Ela mudou-se para a Califórnia para continuar seus estudos de atuação no famoso Pasadena Playhouse.

Um empresário estava sentado na plateia de uma peça que Eleanor participaria no Playhouse, quando ele a convidou para um novo teste cinematográfico, mas desta vez oferecido pela Warner Brothers, e novamente, teve que declinar, alegando que queria terminar seu primeiro ano no Play.  No ano seguinte, Eleanor foi informada que a Warner Brothers estava oferecendo mais um teste para ela, que acabou por fim aceitando e foi aprovada. Logo, ela foi contratada pelo estúdio, e já estava no elenco na obra dirigida por Raoul Walsh (1887-1980) O intrépido General Custer (They Died with Their Boots On, 1941) com Errol Flynn e Olivia De Havilland, mas sua participação acabou sendo cortada.

Como Mildred Rogers na versão de 1946 de SERVIDÃO HUMANA, em papel outrora vivido por Bette Davis em 1934.

Eleanor foi então lançada em filmes de curta-metragem e dada a ela outras atribuições, praticamente em filmes estudantis, algo que foi capacitando a novata atriz aprender o ofício, e  mesmo servindo de âncora para outros testes com atores novatos, como ela mesma. Assinando com a Warner, ela foi atuando em pequenos trabalhos e papéis menores até que o estúdio reconheceu sua profundidade dramática e a colocou como Mildred Rogers em 1946 no remake de Servidão Humana (Of Human Bondage). A história, baseada no dramático livro de W. Somerset Maugham (1884-1965) tinha feito de Bette Davis (1908-1989) uma estrela 12 anos antes, na primeira versão cinematográfica do livro (haveria ainda uma terceira produzida em 1964, com Kim Novak). No primeiro dia de filmagem de Eleanor, Davis mandou flores e um bilhete para a atriz “Espero que Mildred faça tanto pela sua carreira como ela fez pela minha.” Mas o filme fracassou nas bilheterias e muito embora Parker estivesse ganhando elogios e indicações ao Oscar até o início da próxima década, sua caraterização como a mundana e meretriz Mildred era fraca em comparação com o desempenho dinâmico de Bette Davis. Com isso, Parker foi novamente relegada a papéis medíocres até que seu desempenho inovador como uma presidiária numa brutal cadeia feminina em A Margem da Vida (Caged), em 1950, rendeu a talentosa e jovem atriz sua primeira indicação ao Oscar.

A MARGEM DA VIDA (1950), primeira indicação da atriz ao Oscar. Com Agnes Moorehead.
CHAGA DE FOGO (1951) de William Wyler. Com Kirk Douglas.

Eleanor não ganhou a estatueta dourada, mas ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Veneza. Ela também foi indicada no ano seguinte interpretando  a esposa do policial interpretado por Kirk Douglas (1916-2020), que acaba contando um segredo ao marido (sobre aborto, tema considerado censurável nos anos de 1950) no clássico noir de William Wyler (1902-1981), Chaga de Fogo (Detective Storie), em 1951. Sua terceira e última indicação ao Oscar veio por Melodia Interrompida (Interrupted Melody, 1955) um musical dramático baseado em uma história real, com Eleanor interpretando a cantora de ópera Marjorie Lawrence (1907-1979), que no auge do sucesso foi acometida pela poliomielite. Eleanor confrontou um desafio e tanto ao treinar nove árias em três idiomas, ela se refugiou em uma cabana de Lake Arrowhead durante duas semanas, treinando de oito a dez horas por dia.

Como a cantora de ópera Marjorie Lawrence em MELODIA INTERROMPIDA (1956)
Com Stewart Granger em SCARAMOUCHE EM 1952

Sua carreira totalmente floresceu atuando em filmes de sucesso, como Scaramouche (Scaramouche, 1952) com Stewart Granger (1913-1993), Seu nome e Sua Honra (Above and Beyond, 1952) com Robert Taylor (1911-1969)), A Fera do Forte Bravo (Escape from Fort Bravo, 1953) com William Holden (1918-1981), O Vale dos Reis (Valley of The Kings, 1954), novamente com Robert Taylor (com quem teve um romance intenso dentro e fora das telas), e Selva Nua (The Naked Jungle, 1953) com Charlton Heston (1923-2008).

Com William Holden em A FERA DO FORTE BRAVO (1953)
Com Charlton Heston em SELVA NUA (1953)
Eleanor em A NOVIÇA REBELDE (1964), em papel destinado para Hedy Lamarr

Eleanor poderia facilmente ter sido indicada por sua interpretação como a esposa que finge ser deficiente física de Frank Sinatra (1915-1998) na Obra Prima O Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1955), de Otto Preminger (1905-1986) adaptado do romance de Nelson Algren (1909-1981). Parker provou ser uma atriz extremamente talentosa e muito versátil. Para um público mais jovem,  Eleanor é mais lembrada como a Baronesa em A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965) de Robert Wise (1914-2005), papel antes oferecido a Hedy Lamarr (1914-2000).

Com Stephen Boyd em CONFIDÊNCIAS DE HOLLYWOOD (1966).
O HOMEM DO BRAÇO DE OURO (1955)

Eleanor apareceu em Confidências de Hollywood (Oscar, 1966) com Stephen Boyd (1931-1977), vivendo a empresária artística que se torna amante do gigolô e aventureiro interpretado por Boyd. O Filme, dirigido pelo roteirista Russel Rouse (1913-1987), teve um elenco all star (Elke Sommer, Jill St John, Broderick Crawford, Joseph Cotten, Ernest Borgnine, e o cantor Tony Bennett em rara atuação no cinema). A revista Playboy maldosamente criticou a atuação de Eleanor como “uma mulher acabada”, o que não procede. Aos 44 anos, ainda muito bela e atraente, soube mostrar sensualidade e erotismo.

Eleanor em episódio de O BARCO DO AMOR em fins dos anos de 1970
Eleanor na série de TV “HOTEL” por volta de 1984.

O último filme de Eleanor para o cinema foi o criminal A Morte Ronda a Pantera (Sunburn, 1979) com Farrah Fawcett (1947-2009). Posteriormente, ela apareceu um pouco mais na TV. Participou de várias séries, como O Barco do Amor, Havaí 5-0, Vegas, A Ilha da Fantasia, Hotel, e Assassinato por Escrito. O último trabalho de Parker foi  Dead on the Money, filme para a TV, em 1991. Desde então se retirou e viveu aposentada e tranquila com sua família em Palm Springs, Califórnia.

Eleanor Parker foi casada quatro vezes: com Fred Losee, entre 21 de março de 1943 a 5 dezembro  1944; com Bert E. Friedlob, entre 5 janeiro de 1946 a 10 de novembro de 1953, com quem teve três filhos; Paul Clemens, entre 25 novembro de 1954 a 9 de março  1965, com quem teve um filho; e com Raymond Hirsch, com quem casou em 17 de abril de 1966 e com quem ficou casada até 14 de setembro de 2001, quando ele morreu. Ela foi mãe de Susan Eleanor Friedlob (nascida em 7 março de 1948), Sharon Anne Friedlob (nascida em 18 de abril de 1950), Richard Parker Friedlob (nascido em 8 de outubro de 1952) e Paul Clemens Jr (nascido em 7 de janeiro de 1958, como Paul Day Clemens). Todos nasceram no condado de Los Angeles, Califórnia. Em maio de 1950, ela foi escolhida como “Mãe do Ano” pelos floristas americanos. A 6 de março de 1951, Parker teve que abandonar seu leito de doente e fugir com os dois filhos pequenos quando um incêndio em sua casa em Beverly Hills se alastrou. Ela estava na cama com gripe quando foi despertada pelo cheiro de fumaça. Ela levou suas filhas, Susan, com três anos, e Sharon, de um, e deixou a casa em chamas. O incêndio destruiu uma escada e uma parede com danos que estimaram em 500 dólares. Na política, Eleanor era democrata, e sua atriz favorita era Carole Lombard (1908-1942).

Com o terceiro marido Paul Clemens e seus filhos.

Em 1953, Eleanor conheceu o ator Robert Taylor. Ele já tinha 43 anos, ela, 31. Durante as filmagens de Seu Nome e Sua Honra, dirigido por Melvin Frank e Norman Panama, um romance floresceu entre os dois, contudo ambos informaram que nunca se casariam porque Taylor sentia que Eleanor tinha muito de Barbara Stanwyck, primeira esposa do ator, e que ele havia alcançado um patamar em que já não necessitava e nem queria uma mulher assim na vida real.

Com Robert Taylor em SEU NOME E SUA HONRA (1952). Romance dentro e fora das telas

O Vale dos Reis (1954) e o divertido Sangue Aventureiro (Many Rivers to Cross, 1955), foram outros dois filmes que Taylor e Parker fizeram juntos. Foi durante as filmagens de Sangue Aventureiro que Taylor se casou com Ursula Thiess (1924-2010), atriz e ex-modelo. Eleanor recebeu a notícia com decepção e muita tristeza, uma vez que ainda estava de amores com Bob e nutria esperanças de casar com ele, mesmo que fosse rotulada, pelo próprio ator, como “quase outra Barbara Stanwyck”.

Com Christopher Plummer em A NOVIÇA REBELDE (1964).

Cinco meses antes de seu falecimento, Eleanor foi homenageada pela emissora americana Turner Classic Movies, como a “Estrela do Mês”, em celebração aos 91 anos da atriz. Em 9 de dezembro, Eleanor Parker morreu vítima de pneumonia. Ela foi sepultada no Forest Law Memorial Parker, em Los Angeles, onde estão enterrados também várias celebridades de Hollywood.. Ao saber da morte de Eleanor, seu colega de atuação em A Noviça Rebelde e amigo, o ator Christopher Plummer (1929-2021) declarou:

Eleanor Parker foi uma das mais belas mulheres que já conheci, como pessoa também era bela. Eu mal acredito nessa triste notícia, tinha certeza que ela era encantada e viveria para sempre.

Estrela da atriz no famoso Calçadão da Fama em Hollywood

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