FLASH GORDON 90 ANOS PARTE 1

Por Adilson Carvalho

O início da década de 30 foi o início das histórias em quadrinhos de aventuras. Começando com Tarzan de Edgar Rice Burroughs e Buck Rogers de Dick Calkins, não demorou para que os Sindicatos, que produziam e distribuíam os quadrinhos para os jornais começassem a publicar personagens como Dick Tracy, Fantasma, Mandrake, Brick Bradford e outros. A King Features Syndicate contratou então Alex Raymond, que criou três personagens: Jim das Selvas, Agente Secreto X-9 e Flash Gordon. Em uma época em que o homem ainda estava longe dos avanços científicos que levariam o homem à lua, Flash Gordon se situava como o maior herói espacial dos quadrinhos, levando os leitores ao imaginário planeta Mongo. O autor se inspirou em outro romance de ficção científica, Quando Mundos Colidem (When Worlds Collide) de Philip Wylie e Edwin Balmer de 1933, onde há um planeta órfão que entra em rota de colisão com o Planeta Terra, reunindo um herói atlético (Flash Gordon), sua namorada (Dale Arden), e um cientista (Dr. Hans Zarkov) para viajar ao novo planeta usando um foguete espacial, e impedir o choque eminente que salvará a Terra.

Viajando para um mundo alienígena subdividido em vários reinos, o trio conhece o reino florestal de Arboria, governado pelo príncipe Barin; o reino de gelo de Frigia, governado pela rainha Fria; o reino da selva de Trópica, governado pela rainha Desira; o reino submarino dos Homens Tubarão, governado pelo Rei Kala; e a cidade voadora dos homens-falcão, governada pelo príncipe Vultan. Eles são acompanhados em várias aventuras iniciais pelo Príncipe Thun dos homens-Leão. Todos rivalizam entre si e são subordinados à vontade do cruel Imperador Ming, que planeja dominar outros mundos começando pela Terra.

Flash Gordon no Globinho na década de 80Flash e seus amigos vivem suas aventuras visitando esses reinos, forjando alianças e convencendo inimigos a se unirem contra a tirania de Ming. Mesmo Aura, a filha de Ming se apaixona por Flash e muda de lado na guerra contra Ming. Alex Raymond desenhava as tira com requinte nos cenários, detalhes geográficos e distintos em cada reino cercando Flash de mil perigos, o que conquistou o leitor. Raymond faz de cada reiuno uma alegoria do mundo que vivemos, propondo que a sobrevivência só é possível quando deixamos as diferenças mesquinhas e nos unimos. Esta subleitura acompanhava a hábil narrativa de Alex Raymond fazendo desta um triunfo verbal e visual. Após esse arco inicial, Flash Gordon viaja a outros mundos e enfrentam novos perigos como Azura, a Rainha das Bruxas; Brukka, chefe dos gigantes de Frigia; a organização fascista da Espada Vermelha na Terra; e Brazor, o usurpador tirânico de Tropica. A última página dominical de Alex Raymond foi publicada em 30 de abril de 1944 quando o autor se alistou para lutar na Segunda Guerra. Depois de sua saída escritores posteriores criaram novos inimigos para o Flash combater. Austin Briggs, que foi assistente de Raymond, criou Kang, o Cruel, o filho insensível de Ming. Príncipe Polon, que tinha o poder de encolher ou aumentar criaturas vivas, a inescrupulosa Rainha Rubia e Pyron, o Cometa Mestre, estavam entre os antagonistas introduzidos durante a fase de Mac Raboy., que foi de 1948 até 1967. Depois vieram Os Skorpi, uma raça de metamorfos alienígenas que desejavam conquistar a galáxia, vilões recorrentes na fase de Mac Raboy e Dan Barry. Este ficou no personagem até 1990 quando a King Features quis lhe reduzir o salário, e ele recusou passando a desenhar as tiras do Homem-Aranha. Outro personagem importante na fase de Dan Barry foi o ás dos caças espaciais Skorpi, Barão Dak-Tula, tornou-se um inimigo periódico do Flash nas histórias do final da década de 1970.

A tira de jornal de Flash Gordon foi publicada diariamente de 1934 a 1992, com a prancha dominical continuando até 2003. Já no Brasil, a primeira tira de Flash Gordon no Planeta Mongo foi publicado no nº 3 do Suplemento Infantil do jornal A Nação, do Rio de Janeiro, em 28 de Março de 1934 (a partir do nº 15, o Suplemento passou a circular de forma independente com o título de Suplemento Juvenil). Em Agosto de 1939, Flash Gordon passa a ser publicado em O Globo Juvenil, do jornalista Roberto Marinho, que adquiriu todos os direitos para o Brasil dos personagens distribuídos pelo King Features Syndicate. A RGE, do grupo Marinho, publicou 73 edições mensais de Flash Gordon em uma revista em quadrinhos que circulou de janeiro de 1953 a junho de 1968, e depois uma segunda série de 32 edições de agosto de 1975 a março de 1978, além de almanaques e edições especiais. Quando o personagem completou 40 anos de sua criação, a Ebal publicou algumas edições de luxo entre 1973 e 1982. Até a Editora Abril publicou duas edições de Flash Gordon em 1979 reunindo várias histórias da fase Dan Barry. Enquanto isso, no Globinho, suplemento de quadrinhos do Globo, o personagem foi publicado ao longo de vários anos popularizando ainda mais suas histórias. Em 2015, foi a vez da Ediouro, através do selo Pixel Media, lançar Flash Gordon no Planeta Mongo, baseada na edição da Titan Books.

As histórias do herói espacial formam um verdadeiro épico com várias previsões do que estaria por vir como as roupas sensuais de Dale Arden, vestindo minissaia, o uso de laser como um feixe de luz e o próprio foguete capaz de levar humanos para fora da terra, este inspirado nas obras literárias de Jules Verne e H.G.Wells. O único demérito de toda essa concepção era o visual asiático do vilão Ming, desconectado dos tempos atuais mas que representada a visão ocidental da época. Quando a DC Comics publicou em 1988 uma versão modernizada das história MIng ganhou uma pele acinzentada com traços físicos livres da estereotipação. A influência das histórias criadas por Raymond é sentida até mesmo em Star Wars, e em Vingadores: Guerra Infinita, o Homem de Ferro se refere ao Senhor das Estrelas sarcasticamente como Flash Gordon devido à sua aparência semelhante e ambos sendo heróis espaciais. Ainda esse mês voltamos com a celebração dos 90 anos de Flash Gordon cobrindo as adaptações para animações e filmes.

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