ISTO É FATO… NÃO FITA!  APOSTANDO O “PAI NOSSO”

Por Paulo Telles

Um caso a mais nos bastidores da Velha Hollywood! um caso curioso e engraçado.

Ao longo de um século de cinema, a Sétima Arte levou para as plateias os episódios dos evangelhos, do Antigo Testamento, das histórias dos santos e diversos temas religiosos que caíram no agrado do público, pelo menos, para o público de antigamente. Uma história bem curiosa a respeito dos filmes religiosos é que muitos foram baseados em histórias bíblicas, e a Bíblia Sagrada foi fonte não apenas de inspiração, mas também de renda para grande parte dos estúdios cinematográficos que resolveram investir nesta fórmula tão bem-sucedida, cujo auge aconteceu principalmente nos anos de 1950, após o sucesso do clássico Sansão e Dalila, de Cecil B. De Mille, feito em 1949 e realizado pela Paramount.  Entretanto, os mentores de outro famoso estúdio, a Columbia, também pretendiam produzir seu filme bíblico, e a empresa era comandada pelos lendários Irmãos Cohn. O dirigente principal era o famigerado Harry Cohn (1891-1958), que odiava seu irmão Jack Cohn (1889-1956), este o presidente da companhia. É claro que Jack retribuía o sentimento de ódio da mesma forma para com o irmão Harry.

Certo dia, Jack ligou para Harry e disse: “Acho que devo lhe contar quem acabou de me visitar”. Claro que Harry não foi perceptivo quanto a este telefonema, mas Jack foi ao gabinete do irmão no dia seguinte e sugeriu que a Columbia tentasse fazer um filme bíblico. Harry não gostou e esbravejou para o irmão:

Não meta o nariz nos meus negócios!

Só pensei que podíamos fazer um filme bíblico juntos, só isso. Tem um monte de histórias boas na bíblia – disse calmamente Jack.

Que diabos você entende de bíblia? Aposto que você não sabe nem rezar o pai nosso – desafiou aos berros Harry Cohn

Claro que sei – respondeu Jack

Sabe uma Ova! – Gritou Harry – Aposto cinquenta dólares como você não sabe rezar o Pai Nosso. Aposte ou cale a boca!!!

E ambos fizeram a aposta. Harry prossegue:

Vamos, comece a rezar!

Meio hesitante, Jack começa a rezar:

Santo anjo do senhor, meu zeloso guardador…

Chega!!! Achei que não soubesse – disse Harry Cohn entregando os cinquenta dólares com relutância a Jack.

Entretanto, Jack Cohn estava certo, não a respeito do Pai Nosso, que acabou confundindo com a oração do Anjo da Guarda, mas certo sobre as possibilidades comerciais da Bíblia no milagre da multiplicação das bilheterias.

E assim a Columbia realizou em 1953 Salomé, tendo como diretor William Diertele (1893-1972), e como protagonista a estrela do estúdio, Rita Hayworth (1918-1987). Mas nem por isso Harry Cohn foi feliz, já que bateu de frente inúmeras vezes com Rita durante a produção, sendo os dois inimigos figadais. Mas isto já é outra história, para mais um registro a ser publicado.

O incidente dos irmãos Cohn e a aposta entre os dois para quem sabia rezar o “Pai Nosso”, por incrível que pareça, é um caso real em nossos registros, afinal, Isto é Fato…Não Fita!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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