CLÁSSICO REVISITADO | A JANELA INDISCRETA – 70 ANOS

Por Adilson Carvalho

Alfred Hitchcock tinha uma habilidade única para trabalhar a expectativa do público e criar um elo de cumplicidade com este à medida que desenrola suas tramas. As histórias seriam medíocres se dirigidas por alguém menos hábil, pois era a mão do diretor inglês que fazia a diferença. Isto é incrivelmente nítido em Janela Indiscreta (Rear Window), lançado há 70 anos e ainda de um impacto impressionante escrito por John Michael Hayes com base no conto It Had To Be Murder (1942), de Cornell Woolrich. Recebeu quatro indicações ao Oscar e foi classificado na 42.ª posição na lista 100 Anos… 100 Filmes do AFI – American Film Institute, que elegeu os melhores filmes estadunidenses, em 1998, e na 48.ª posição na edição de 10.º aniversário. Em 1997, Janela Indiscreta foi adicionado ao National Film Registry na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos como sendo “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo“.

Perfeita tradução do voyerismo, Hitch nos conduz a Greenwich Village, Nova York, onde L.B. Jeffries (James Stewart), um fotógrafo profissional, está confinado em seu apartamento por ter quebrado a perna enquanto trabalhava. Como não tem muitas opções de lazer, vasculha a vida dos seus vizinhos com um binóculo, quando vê alguns acontecimentos que o fazem suspeitar que um assassinato foi cometido. Convencido de que Lars Thorwald (Raymond Burr) assassinou sua esposa, relata isso ao seu amigo Tom Doyle (Wendell Corey), detetive da Polícia, que investiga mas não encontra nada de suspeito. Incapaz de sair de cadeira de rodas, e inconformado com as ações da polícia, alisa a ajuda de sua namorada, a socialite Lisa (Grace Kelly) que arriscará sua vida para provar a visão testemunhal de Jeff. Completamente filmado em um único cenário nos estúdios da Paramount, o filme exigiu meses de planejamento e construção, filmado rapidamente depois de Disque M para Matar (1954), de 27 de novembro de 1953 a 13 de janeiro de 1954.

De acordo com a maioria dos relatos, todos eram loucos por Grace Kelly. De acordo com James Stewart, “todos se sentavam e esperavam que ela chegasse de manhã para que pudéssemos olhar para ela. Ela era gentil com todos, muito atenciosa, ótima e muito bonita”. Stewart também elogiou sua capacidade de atuação instintiva e sua “compreensão completa da maneira como a atuação cinematográfica é realizada”. Dos quatro filmes que fez com Hitchcock, James Stewart considerava este seu favorito. Apesar do grande sucesso de bilheteria e de quatro indicações ao Oscar, o filme não conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor filme, nenhuma indicação como ator ou (o que é mais surpreendente) uma indicação pelo fantástico design dos cenários. O filme recebeu indicações ao Oscar de Melhor Diretor, Alfred Hitchcock; Melhor Roteiro, John Michael Hayes; Melhor Fotografia, Cor, Robert Burks; e Melhor Som, Gravação, Loren L. Ryder. Grace Kelly, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Amar é Sofrer no mesmo ano, 1954, ganhou tanto o New York Film Critics Circle quanto o National Board of Reviews naquele ano por três filmes, Amar é Sofrer, Janela Indiscreta e Disque M para Matar. Um filme cheio de metáforas, conduzido magistralmente e com entrelinhas muito bem preenchidos pelo mestre do suspense. Uma obra prima em todos os sentidos. DISPONÍVEL NO TELECINE.

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