COLUMBIA 100 : ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR

Por Adilson Carvalho

Um dos maiores clássicos dos anos 60, e um dos mais românticos a tratar a questão racial foi Adivinhe quem vem para jantar (Guess who’s coming to dinner) de 1967, de Stanley Kramer. Foi um dos poucos filmes da época a retratar um casamento inter-racial de uma forma positiva, já que o casamento inter-racial historicamente era ilegal em muitos lugares dos Estados Unidos. Até 12 de junho de 1967, seis meses antes do lançamento do filme, ainda era ilegal em 17 estados, e somente pouco antes as leis anti-miscigenação viriam a ser derrubadas pela Suprema Corte. O filme foi o nono e último do casal Spencer Tracy (1900-1967) e Katherine Hepburn (1907-2003). Mesmo doente na época, Spencer Tracy insistiu em continuar as filmagens, contrariando os chefões do estúdio, que concordaram com continuar apenas depois que concluídas apenas 17 dias antes da sua morte em junho de 1967. Hepburn nunca veria o filme completo, pois dizia que as memórias que evocaria para ela de Tracy eram muito emocionais. O filme foi lançado em dezembro de 1967, seis meses após sua morte, e o ator foi indicado postumamente para o Oscar de melhor ator.

Mas o filme de desenrola a partir do noivado inesperado entre Joanna Drayton (Katherine Houghton, que era sobrinha de Katherine Hepburn na vida real) e John Prentice Jr, interpretado por Sidney Poitier (1927-2022). Ambos planejam se casar e precisam enfrentar o choque de seus familiares e amigos ao chegarem a San Francisco, lar dos Draytons (Tracy e Hepburn), que mantem uma postura liberal. O casal de noivos ainda enfrentará o Sr. e Sra Prentice (Roy Glenn e Beah Richards), que resistem à união interracial. O que desenrola na história toca em preconceitos, em livre arbítrio e questões civis que borbulhavam na América na ocasião do lançamento do filme, quatro meses antes do assassinato de Martin Luther King (1929-1968). Por conta disso, foi cortada uma cena do filme em que Tillie (Isabel Sanford) pergunta a Joey (Houghton) “Quem vem jantar aqui? O Reverendo Martin Luther King?” Embalado pela belíssima canção tema Glory Of Love, o filme de Stanley Kramer consegue ser um retrato fiel, embora suavizado, da realidade americana de final dos anos 60. Mesmo que datado em alguns aspectos narrativos o filme ainda impressiona com seus diálogos. O discurso final de Matt Drayton (Tracy) é emocionante, idealista e não à toa fez Katherine Hepburn chorar de verdade em cena diante do canto do cisne de um grande ator que deixou uma mensagem como legado: ” o que importa é o que eles (Poitier e Houghton) sentem um pelo outro e o quanto sentem. Pelos outros (os racistas) voces lamentam”. Não seria essa a essência da Glória do Amor ?

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