SPIELBERG PARTE VI ALÉM DA ETERNIDADE

por Adilson Carvalho

Embora não tenha sido na época um de seus trabalhos mais elogiados, Além da Eternidade (Always) é o filme mais românticos de Steven Spielberg, refilmagem de Dois No Céu (A Guy Named Joe) de 1943, que era estrelado por Spencer Tracy. No filme original, que se passava nos dias da Segunda Guerra, o piloto Pete Sandidge ( Tracy) morre em uma missão de reconhecimento, e sua alma ascende ao “Paraíso dos Pilotos”, onde ele é efusivamente saudado pelo General (Lionel Barrymore), O General nomeia Pete para agir como anjo da guarda para um grupo de pilotos de treinamento, assim ele volta invisível para a Terra. Um destes pilotos é Ted Randall (Van Johnson), um belo jovem que acaba se apaixonado pela namorada de Pete, Dorinda Durston (Irene Dunne).

Spielberg declarou depois que este foi um dos filmes que o fizera chorar (o outro foi Bambi) e alimentava desde a época que dirigira Tubarão (1975) a vontade de refilmar a história. Em sua versão, Peter Sandrich é um piloto de combate a incêndios florestais, que não tem medo do perigo e age muitas vezes de forma irresponsável até morrer no que deveria ser sua última missão. No céu, conhece Hap, um anjo metódico que deseja que ele passe seus conhecimentos de aviação ao seu jovem sucessor, Ted Baker que vem a se envolver romanticamente com Dorinda, a ex noiva de Pete. O uso de antigos aviões (Fairchild C-119F fire bomber, Consolidated PBY-5A Super Cat waterbomber) cria um laço visual com o filme original e a romântica canção Smoke Gets in You Eyes, do The Platters reforça o clima nostálgico pretendido. Na verdade, Speilberg queria usar a canção Always de Irving Berlin, mas não conseguiu obter os direitos.

A principio Spielberg pensou em Paul Newman para o papel de Pete e Robert Redford como Ted mas ambos se interessaram somente pelo papel de Pete. Ao final, Richard Dreyfuss, com quem Spielberg fizera Tubarão (1975) e Contatos Imediatos do 3º Grau (1978). O papel de Ted ficou com o novato Brad Johnson (1959-2022), Holly Hunter fez Dorinda e John Goodman fez Al, o amigo de Pete e Dorinda. Para o papel do anjo Hap o diretor pensou inicialmente em Sean Connery, mas este não estava disponível. Ao decidir por uma atriz para o papel o único nome que veio à mente foi a de Audrey Hepburn (1929 – 1993). Audrey teve aqui seu canto do cisne, vindo a falecer pouco depois de concluída as filmagens. O filme é emotivo e revisto hoje guarda um tom nostálgico encantador, embora seja arrastado em alguns momentos. Talvez por flertar com o passado em sua estrutura narrativa, o roteiro de Jerry Belson (Advinhe quem vem para roubar, Desta vez de agarro) não consegue fazer o romance conquistar o público. Holly Hunter e Richard Dreyfuss não demonstram química e Brad Johnson não se faz relevante como a outra ponta de um triângulo amoroso. Mesmo assim, o filme tem seus momentos e um encerramento digno de um anjo como Audrey Hepburn.

No próximo artigo do clico Spielberg vamos rever os filmes do diretor com Tom Cruise.

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